10/10/10

7ª AULA- ACTOS ILOCUTÓRIOS

ACTOS DE FALA


Segundo o filósofo J. L. Austin, a elocução de uma determinada frase não serve apenas para descrever um estado de coisas, mas também para realizar uma intenção. Assim, às acções realizadas por um locutor através de um enunciado, visando intencionalmente obter algo do alocutário, deu o nome de actos de fala.
Austin, percebendo que os enunciados desempenham diferentes funções na interacção verbal e partindo do princípio de que dizer pode significar fazer, foi o primeiro teorizador dos actos de fala.

Para Austin, na realização completa de um acto de fala ocorrem três actos distintos:

1. acto locutório: corresponde ao acto de pronunciar um enunciado.
2. acto ilocutório: corresponde ao acto que o locutor realiza quando pronuncia um enunciado em certas condições comunicativas e com certas intenções, tais como ordenar, avisar, criticar, perguntar, convidar, ameaçar, etc. Assim, num acto ilocutório, a intenção comunicativa de execução vem associada ao significado de determinado enunciado.
3. acto perlocutório: corresponde aos efeitos que um dado acto ilocutório produz no alocutário. Verbos como convencer, persuadir ou assustar ocorrem neste tipo de actos de fala, pois informam-nos do efeito causado no alocutário.


Com base na teoria de J. L. Austin, J. Searle procedeu à divisão e classificação dos actos ilocutórios. A teoria dos actos ilocutórios de John Searle (Searle 1969 e 1979) assenta no princípio de que quando locutor pronuncia uma determinada frase, num contexto específico, executa, implícita ou explicitamente, actos como afirmar, avisar, ordenar, perguntar, pedir, prometer, criticar, entre outros. Assim, o alocutário deve interpretar um enunciado tendo em conta o conteúdo proposicional do acto proferido e, também, todos os marcadores da força ilocutória presentes na situação comunicativa em que é proferido.

TIPOS DE ACTOS ILOCUTÓRIOS


1. Acto ilocutório assertivo: acto de fala que o locutor realiza pela pronunciação de um enunciado que implica um certo comprometimento com o valor relativo de verdade/ falsidade, ocorrendo em frases com verbos assertivos e expressões verbais.

Exs.:

No mês de Março, compro-te uma bicicleta.

O Pedro faz anos no dia 20 de Maio.

2. Acto ilocutório directivo: actos de fala a partir dos quais o locutor pretende levar o alocutário a fazer ou a dizer alguma coisa. Estão-lhe associados verbos como convidar, pedir, requerer, ordenar. Os enunciados produzidos com intenção de levar o alocutário a realizar algo, ocorrem mais frequentemente em frases imperativas, interrogativas, com verbos exortativos e de inquirição.

Exs.:

Põe a pesa!
Fiquem para o jantar!


3. Acto ilocutório compromissivo: acto de fala que o locutor realiza com a intenção de se comprometer a realizar uma determinada acção no futuro.

Ex.:

Ligo-te mal chegue a casa. [Acto de fala que implica uma promessa]


4. Acto ilocutório expressivo: acto de fala em que locutor pretende exprimir os seus sentimentos ou emoções face ao estado de coisas representado pelo conteúdo proposicional do enunciado produzido.

Exs.:

Os meus pêsames!
Bem-haja!


5. Acto ilocutório declarativo: acto de fala que institui ou altera um estado de coisas pela simples declaração de que elas existem. Está associado a rituais, como o casamento ou o baptismo. Estes actos declarativos têm de obedecer às regras linguísticas específicas da instituição em questão (igreja, tribunal, estado) e os papéis sociais do locutor e do alocutário estão bem definidos.

Ex.: Declaro-vos marido e mulher. [Neste acto de fala está pré-estabelecido que o padre desempenha o papel de locutor e os noivos o de alocutários]

5.1 Acto ilocutório declarativo assertivo: acto ilocutório declarativo em que o locutor tem autoridade específica, por exemplo, para excluir ou aceitar alguém num concurso, declarar alguém inapto para o serviço militar. Assim, estes actos de fala são, simultaneamente, asserções e declarações.



Acto ilocutório indirecto: acto de fala em que o locutor tem a intenção de dizer algo diferente daquilo que expressa, contando com a capacidade do alocutário em reconhecer o objectivo ilocutório do enunciado. Este tipo de actos prende-se com a necessidade de o locutor evitar formas que possam ser interpretadas como agressivas pelo alocutário.

Exs.: Está frio!
Já fecho a janela!


O enunciado "Está frio!", apesar de parecer tratar-se apenas de uma asserção deve, em certas circunstâncias ser interpretado como um pedido, pois na pronunciação deste acto ilocutório indirecto o locutor pode ter a intenção de levar o alocutário a fechar uma janela.
                                                                    in Infopedia, Enciclopédia e Dicionários Porto Editora

                                  EXERCÍCIO INTERACTIVO

03/10/10

6ª AULA - A Carta Formal

A carta comercial, de cortesia ou de apresentação



As cartas, que surgem, frequentemente, como textos normativos, podem variar pelo conteúdo e pelos temas. As de cortesia, em geral, podem, de acordo com o conteúdo, ter um número infinito de possibilidades, denominando-se, por exemplo, cartas de felicita¬ção, de recomendação, de pêsames; ou podem abarcar os mais diversos temas, desde os de índole política aos de cariz social, desportivo, religioso, cultural ou outro.

Muitas cartas comerciais dos jovens são de candidatura a emprego, podendo ser de apresentação e/ou pedido de emprego, anúncios e respostas, pedido de informações, reclamações...



Partes e características
A carta comercial, de cortesia ou de apresentação deve ser breve e directa. Além das referidas partes constitutivas de qualquer carta (o cabeçalho, as saudações, o corpo da carta, as despedidas e a assinatura), a carta comercial deve incluir:



a) Cabeçalho:

Possível identificação do emissor (possível logo¬tipo; nome e morada da pessoa ou entidade que escreve a carta);

Local e data:

Destinatário: pessoa ou empresa a quem vai diri¬gida, endereço (que não tem de estar tão completo como no envelope);

Possível referência de classificação ou arquivo. As fórmulas mais comuns são: N/Ref (a nossa refe¬rência); S/Ref (a sua referência);

Com frequência, indicação do assunto, através de uma palavra ou expressão-chave.

b) Saudação inicial - vocativo. Sempre seguido de vírgula (tratamento de cortesia, sem esquecer o cargo da pessoa a quem se dirige). As fórmulas mais comuns, que variam conforme a relação entre emissor e destinatário, são, por exemplo: Excelen¬tíssimo Senhor, Distinta Senhora, Estimado amigo, Querida amiga...

c) Corpo da carta. Contexto ou assunto. Na sua ela¬boração, duas ou três linhas após a saudação, con¬vém ter em conta a clareza, a precisão, a ordem, a coerência e a apresentação. O corpo pode conter introdução (com o motivo do escrito), desenvolvimento (com a narração dos acontecimentos, ideias ou argumentação) e conclusão (com exposição concreta da nossa posição e consequência lógica da exposição).

d) Despedida. De acordo com o grau de confiança, pode terminar com «sinceros cumprimentos», «atentamente», «cordialmente»...

e) Assinatura. Por baixo do nome, muitas vezes, é conveniente escrever o cargo de quem escreve.

f) Se após terminar a carta ficou algum detalhe importante por dizer, insere-se uma notação final chamada P. S. (post-scriptum).

g) Em algumas cartas, em baixo à esquerda, surgem, em maiúsculas, as iniciais da pessoa que redigiu a carta e, em minúsculas, de quem a transcreveu, separadas por uma barra.



Com frequência, nas formas de tratamento, em cartas comerciais, de cortesia ou de apresentação, usa-se a terceira pessoa, no possessivo «Vossa»; e quando falamos de alguém, usaremos a terceira pessoa, possessivo «Sua». Nas formas de tratamento, as (pressões escritas mais usadas são: Excelentíssimo Senhor, Excelentíssima Senhora, Excelência, Ilustríssimo Senhor, Vossa Senhoria, Sua Senhoria, Digníssimo...

Na redacção da carta, convém atender às características do destinatário (cargo que ocupa, nível cultural..); saber o que se quer comunicar; usar de clareza e concisão; evitar o erro ortográfico ou sintáctico.



EXEMPLO 1


José Silva Cardoso
Rua Carvalho dos Santos, nº 22, 2º esq.
1234-432 Oliveira de Cima
                                                                       Oliveira de Cima, 10 de Agosto de 2003



      Ex.mo Senhor
      Presidente da Câmara de Castelo Branco


     Excelência:
    Venho, na qualidade de munícipe e por este meio, dar uma vez mais conhecimento a V. Ex.ª do deplorável estado em que se encontra a rua onde habito, desde as últimas cheias, que tiveram lugar há já oito meses. Intransitável a qualquer veículo e sem iluminação, oferece perigo aos vários utentes, nomeadamente crianças e idosos.
      Certo de que V. Ex.ª está atento aos interesses e necessidades dos munícipes, apresento os meus melhores cumprimentos.



                                                          Subscreve-se respeitosamente

                                                                    José Silva Cardoso

EXEMPLO 2
Carta de candidatura


Uma das cartas mais importantes que se poderá ter de escrever na vida profissional é quando se procura um emprego, seja em resposta a um anúncio ou quando se tem conhecimento de algu¬ma vaga para um lugar que nos interessa.



Esta carta deve ser acompanhada do Curriculum Vítae (ver ficha seguinte) e, normalmente, deve conter:

  • Identificação
- Nome;
- Número, data e local de emissão do Bilhete de Identidade;
- Morada;
- Telefone;
  • Dados solicitados no anúncio:
    - Referência ao nome do jornal, data de publicação, número do Decreto-Lei ou número dereferência do anúncio;
           - Referência ao posto de trabalho a que te candidatas; - Motivos pelos quais te candidatas ao lugar.

  • Habilitações literárias e profissionais (resumidas)
  • Manifestação da tua disponibilidade para uma entrevista
  • Apresentação de cumprimentos e assinatura.

Cada vez mais empresas pedem uma carta manuscrita. A razão deste pedido é a possibilidade de entregarem a carta a grafólogos que estudam um pouco a personalidade da pessoa que escre¬veu a carta.
Portanto, usa uma caligrafia legível, sem erros e nunca em letras maiúsculas. As frases devem ser curtas e o estilo pessoal, directo e incisivo, de modo a motivar o futuro empregador.

EXEMPLO 3

Carta de resposta a um anúncio



Luís Santos
Rua das Flores, nº 10
1100 – LISBOA
                                                                              Lisboa, 20 de Janeiro de 2001



Ex.ºs Senhores

Em resposta ao vosso anúncio de ____________ para o cargo de ____________ na vossa empresa, venho, por este meio, apresentar a minha candidatura ao referido lugar.
Para efeitos de avaliação do meu perfil profissional, junto envio o meu curriculum vitae.
Agradecendo antecipadamente a atenção dispensada, subscrevo-me com consideração.

                                                               De V. Ex.ªs

                                                               Atentamente

                                                        _________________